segunda-feira, 2 de abril de 2012

S.O.S. FAMÍLIA

É preciso aprender a viver em grupo


                                                                                                                                        Por Rosely Sayão

Saiu na Folha de São Paulo, uma reportagem interessante com o título 'Macaco não pensa no bem do outro'. O texto relatou um estudo experimental realizado com chimpanzés que permitiu aos pesquisadores descobrir que esses animais se preocupam apenas com eles mesmos, ou seja, são egoístas. Em resumo: agem como se estivessem sozinhos mesmo quando acompanhados de pares (embora haja o instinto materno). Diferentemente dos seres humanos, são incapazes de pensar no bem-estar de seus semelhantes. Pois a educação, tanto a praticada pelos pais quanto a escolar, tem sido macaqueada.

Os pais não querem que o filho sofra exclusão social, mas ensinam a excluir; não querem que o filho seja rejeitado, mas ensinam a rejeitar.

Qual é a maior preocupação dos pais com os filhos? Que eles se dêem bem na vida, que sejam felizes. E isso tem a ver exclusivamente com a vida privada deles. Ao mesmo tempo, querem também que o filho se relacione com seus pares, que tenha um rol de relacionamentos grande, que seja sociável. Ensinam, entretanto, à exaustão, a competição para que o filho esteja sempre entre os primeiros da fila na vida, em todos os aspectos.

Na verdade, o estilo de vida atual leva os pais da classe média a educarem para o individualismo e a ascensão pessoal, para o consumo e um futuro privado confortável e, principalmente, para que eles saibam se proteger dos estranhos -esses desconhecidos que vivem nas mesmas cidades e têm a mesma idade, mas que não freqüentam a mesma escola, o mesmo clube ou as mesmas festas.

Os pais não querem que o filho sofra exclusão social, mas ensinam a excluir e a ignorar; não querem que o filho seja rejeitado, mas ensinam a rejeitar; não querem que o filho seja constrangido, mas ensinam a constranger. Enfim, os pais não querem que o filho seja sozinho, já que a vocação do ser humano é viver com outros e precisar deles para ser reconhecido, mas ensinam que ele não precisa reconhecer o estranho, respeitá-lo, colaborar com ele e viver de modo a cooperar para que todos tenham as mesmas oportunidades na vida.

Um retrato fiel desse quadro é o modo como os pais encaram a vida escolar do filho, desde a infância até a juventude. Tudo o que os pais transmitem ao filho é que ele deve estudar -de preferência nas melhores escolas particulares para ter acesso ao que se considera uma boa faculdade pública- e desenvolver-se intelectualmente a fim de ter uma profissão que lhe permita viver confortavelmente. Os pais não se lembram sequer de mencionar que o trabalho deve visar o bem comum, a intervenção para a melhoria da vida em sociedade e não apenas ganhar o próprio pão, não é verdade? E mais: o próprio comportamento social dos pais aponta para esse norte.

Mas quem sofre e sofrerá mais ainda no futuro com esse tipo de aprendizado é o próprio filho. Quando o interesse de todos não entra em causa na vida pessoal, o bem-estar social fica prejudicado, e cada indivíduo passa a sofrer as conseqüências disso.

As escolas que atendem aos filhos da classe média agem de modo muito parecido. Elas se preocupam em oferecer segurança, equipamentos e tecnologia educacional de última geração, marketing primoroso, projetos 'inovadores' etc. Falam em educar para a cidadania, fazem referência ao ensino da cooperação, do respeito e da solidariedade, mas, em geral, usam essas palavras como bordões vazios de sentido.

Basta uma visita à escola para verificar que, na prática, isso não ocorre. Valem mais na escola, do mesmo modo que nas famílias, os direitos individuais do que o bem comum.

A classe média precisa aprender e ensinar que olhar apenas para si mesmo compromete a vida em geral. Os dados do censo escolar de 2005 realizado pelo Inep informam que, dos 55.471.755 alunos matriculados na educação básica, apenas 7.387.321 freqüentam a rede privada. Esses números mostram que aprender e ensinar a construir o bem comum é visar o bem-estar dos filhos.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de 'Como Educar Meu Filho?' (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br

03/11/2005
Fonte: Folha de S. Paulo
É preciso aprender a viver em grupo

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